Os fatores que explicam o prejuízo de R$ 6,1 bilhões dos Correios
Estatal enfrenta 13º trimestre consecutivo de perdas e busca reestruturação urgente após rombo financeiro
Reprodução A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Correios) enfrenta uma crise financeira sem precedentes que resultou em um prejuízo acumulado de R$ 6,1 bilhões até setembro de 2025. Este resultado marca o 13º trimestre consecutivo em que a operação da estatal registra saldo negativo. Os números, divulgados em balanço no final de novembro de 2025, evidenciam que a deterioração das contas é multifatorial, englobando desde a concorrência no mercado de logística até o impacto de decisões judiciais.
A dimensão do rombo financeiro
O prejuízo de R$ 6,1 bilhões se deve, em grande parte, à disparada das despesas gerais e administrativas, que saltaram de R$ 3,1 bilhões em 2024 para R$ 4,8 bilhões em 2025, um aumento de 53,5%. O principal componente dessa elevação foi o pagamento de precatórios, decorrente de decisões judiciais transitadas em julgado, que somou R$ 2,1 bilhões no período. Ao mesmo tempo, a receita dos Correios registrou uma queda de 12,7% em relação ao ano anterior, totalizando R$ 12,3 bilhões.

Perda de mercado e concorrência
Um dos pontos centrais da dificuldade financeira está na perda de competitividade. Desde o fim do monopólio no transporte de encomendas, em 2009, a estatal perdeu grande fatia do mercado para operadoras privadas de logística, que disputam o que é considerado o "filé mignon" do setor. Embora a exclusividade na entrega de cartas e malas diretas tenha sido mantida, a demanda por esses serviços diminuiu drasticamente com o crescimento da economia digital. Os Correios ficaram com a responsabilidade da universalização do serviço postal, que em muitos pontos do país opera a baixo custo e gera ônus.
O impacto da "taxa das blusinhas"
Outro fator que atingiu a receita da companhia foi a implementação da cobrança de impostos sobre compras internacionais de até US$ 50. Embora a medida tenha sido criada para tornar o varejo nacional mais competitivo, ela afetou diretamente a fonte de receita dos Correios, que perdeu a exclusividade na importação dessas mercadorias, reduzindo o volume de movimentações e, consequentemente, o faturamento.
Aumento das despesas com pessoal e judiciais
As despesas com pessoal representam uma pressão considerável. Em 2024, a empresa concedeu reajuste linear de 4,11% a mais de 55 mil empregados, além de resgatar cláusulas benevolentes no acordo coletivo, como o adicional de 70% sobre as férias. A expectativa é que o gasto total com pessoal alcance R$ 15,1 bilhões em 2025. A esse quadro soma-se a falta de um diagnóstico preciso sobre as ações judiciais, principalmente trabalhistas, que contribuíram com o peso relevante dos precatórios no prejuízo.
O desafio do plano de saúde e caixa
O modelo de plano de saúde da companhia também pesa nas contas. Os Correios são mantenedores do benefício, responsabilizando-se por todos os riscos da operadora. Em 2022, o estatuto permitiu que a estatal adotasse o regime de patrocínio, menos oneroso, mas a mudança foi revertida no governo atual. Além disso, a empresa utilizou recursos próprios do caixa para investimentos em veículos elétricos e tecnologia em um momento em que a situação financeira já era delicada.
Propostas de reestruturação
Diante do cenário, a nova gestão dos Correios, que assumiu em setembro de 2025, anunciou um plano de reestruturação. A iniciativa visa reequilibrar as finanças até 2027 e busca a captação de recursos, incluindo um empréstimo de R$ 20 bilhões. A proposta, no entanto, foi inicialmente vetada pelo Tesouro Nacional por considerar os juros elevados para uma operação que teria garantia soberana, pressionando a empresa a refinar seu plano de ajuste.
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