Um grito silencioso: A luta contra a violência aos Idosos no Brasil
Educação, cuidado e prevenção para proteger quem já viveu tanto
Hoje, 15 de junho, é o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, uma data que joga luz sobre um problema que o Brasil ainda enfrenta com dificuldade: o aumento alarmante de casos de violência contra pessoas com mais de 60 anos. No país, onde a população idosa cresce a passos largos, a negligência, o abuso financeiro e a violência física e psicológica têm roubado a dignidade de muitos. Este artigo mergulha na realidade brasileira, explorando como educação, cuidados e prevenção podem transformar esse cenário e garantir um envelhecimento com respeito.

Uma realidade que não pode ser ignorada
No Brasil, os números são preocupantes. Em 2024, o Disque 100, principal canal de denúncias de violações de direitos humanos, registrou 179.600 casos de violência contra idosos, um salto em relação aos anos anteriores. A negligência lidera, com 464.300 ocorrências, seguida pela violência psicológica (389.300 casos) e física (368.700). O abuso financeiro também é alarmante, com idosos tendo aposentadorias e bens apropriados indevidamente por familiares ou conhecidos. No Maranhão, mulheres idosas de baixa renda são as mais afetadas, enquanto no Distrito Federal, entre 2014 e 2023, quase 2 mil casos foram notificados, com maior impacto entre mulheres de 60 a 69 anos.
O lar, que deveria ser um lugar de proteção, é onde 60% a 71% desses casos acontecem. Filhos, netos e outros parentes próximos frequentemente estão entre os agressores, o que torna a denúncia ainda mais difícil. Muitos idosos silenciam por medo, dependência emocional ou financeira, ou até para proteger a família. O idadismo — o preconceito contra a velhice — alimenta essa violência, tratando idosos como “inúteis” ou “fardos”. Com a população idosa projetada para alcançar 29% do total até 2050, o Brasil precisa agir agora.
Educação: o primeiro passo para mudar
Para combater a violência, é preciso começar pela conscientização. Campanhas como o Junho Violeta têm levado informação às ruas, escolas e redes sociais, mostrando que a velhice merece respeito, não violência. A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e a OAB-SP promovem debates e oficinas para ensinar a identificar abusos, como golpes virtuais, que crescem entre os idosos.
Capacitar profissionais também é crucial. Agentes de saúde, assistentes sociais e cuidadores precisam saber reconhecer sinais de violência, como hematomas, isolamento ou mudanças de comportamento. No Distrito Federal, eventos da Secretaria de Justiça e Cidadania têm treinado equipes para oferecer um atendimento mais humano e acolhedor. Nas famílias, a educação também faz diferença: orientar cuidadores sobre os desafios do envelhecimento pode evitar a negligência e o esgotamento, que muitas vezes levam a abusos.
Cuidar é proteger
Cuidar de idosos vai além de atender necessidades básicas; é garantir que eles vivam com dignidade. Centros como os Cepavs, no Distrito Federal, oferecem apoio médico, psicológico e social, ajudando vítimas a reconstruir sua autoestima. Serviços de assistência domiciliar, com cuidadores treinados, podem aliviar a pressão sobre as famílias e reduzir casos de negligência.
As Instituições de Longa Permanência (ILPIs), como asilos, também precisam de atenção. Hoje, faltam vagas e qualidade no atendimento, o que deixa muitos idosos vulneráveis. Além disso, programas que dividam o cuidado entre família e poder público, como preconiza o Manual de Enfrentamento à Violência contra a Pessoa Idosa, são essenciais para evitar a sobrecarga de cuidadores.
Prevenção: construir uma rede de proteção
Prevenir a violência exige esforço conjunto. O Disque 100, disponível 24 horas por telefone, WhatsApp e até em Libras, é uma ferramenta poderosa para denúncias anônimas. Em São Paulo, serviços como o SP 156 e a Ouvidoria de Direitos Humanos reforçam essa rede. Recentemente, a aprovação do Cadastro Nacional de Pessoas Condenadas por Violência contra Idosos (CNVI), em abril de 2025, trouxe esperança: ele permitirá monitorar agressores e integrar dados entre órgãos de segurança.
Políticas públicas mais robustas são urgentes. Criar mais Centros de Referência dos Direitos da Pessoa Idosa e fortalecer a fiscalização do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) são passos necessários. Acima de tudo, combater o idadismo é fundamental. Como diz a gerontóloga Jordelina Schier, “envelhecer com dignidade exige uma mudança cultural profunda, que valorize a experiência e os direitos dos idosos”.
Um chamado à ação
O Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa é um convite para refletir e agir. Cada denúncia feita, cada campanha compartilhada, cada conversa sobre respeito ao idoso é um passo para mudar a realidade brasileira. Proteger quem construiu tanto para o nosso país não é só uma responsabilidade — é uma questão de humanidade.





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