Encontro fora da agenda: ministro da Educação e a ex-nora de Lula
Encontro discreto levanta questionamentos sobre influência em verbas educacionais
Reprodução/Edição360 A ex-nora do presidente Lula, Carla Ariane Trindade, foi recebida pelo ministro Camilo Santana, do PT do Ceará, em uma reunião fora da agenda oficial no Ministério da Educação. O encontro ocorreu em Brasília e coincide com o período em que ela se tornou alvo de uma operação da Polícia Federal por suspeita de envolvimento em um esquema de desvio de recursos na área da educação em municípios paulistas.
Carla Ariane, casada por duas décadas com o filho mais velho de Lula, Marcos Cláudio Lula da Silva, aparece nos registros do ministério como visitante no gabinete de Santana. O documento, obtido por meio da Lei de Acesso à Informação, anota sua entrada às 12h e menciona "Presidente Lula" no campo de cargo ou função, apesar de ela não ocupar nenhum posto oficial no governo.
Naquele dia, uma sexta-feira, a agenda pública de Santana registrava uma viagem de Fortaleza para Brasília e uma atividade matinal no Hospital Universitário de Brasília, vinculado à Universidade de Brasília. O compromisso no hospital se estendeu das 9h30 às 11h, o que indica que o ministro já estava na capital federal no momento do encontro.
Suspeitas de lobby e tráfico de influência
A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira a operação Coffee Break, que mira um grupo de cinco pessoas acusadas de lobby junto ao governo federal para liberar verbas a cidades do interior de São Paulo. Carla Ariane e o lobista Kalil Bittar, ex-sócio de outro filho de Lula, Luís Cláudio Lula da Silva, o Lulinha, são descritos na decisão judicial como figuras com suposta influência no Planalto.
O esquema girava em torno da Life Tecnologia Educacional, empresa que fornecia equipamentos superfaturados para prefeituras. O dono da companhia, André Mariano, estaria no centro das irregularidades, pagando propinas a servidores e lobistas para garantir contratos. Ele inclusive arcou com duas viagens de Carla Ariane a Brasília.
A juíza Raquel Coelho Dal Rio Silveira, da 1ª Vara Federal de Campinas, autorizou as buscas e apreensões. As investigações apontam que Carla conheceu Mariano por intermédio de um secretário municipal de Hortolândia, Fernando Gomes Moraes, e de Kalil Bittar. O secretário facilitava agendamentos entre o empresário e ela, o que levava a licitações direcionadas para a Life no município.
Os autos da PF sugerem que Carla atuava em defesa dos interesses privados de Mariano perante órgãos públicos, especialmente na captação de recursos e contratos. No entanto, o inquérito não detalha o grau exato de sua influência no governo nem se ela recebeu vantagens financeiras diretas.
Em maio de 2024, o próprio André Mariano participou de uma reunião no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, o FNDE, para discutir livros paradidáticos, material escolar e bibliotecas. Estavam presentes a então presidente do fundo, Fernanda Pacobahyba, e a coordenadora-geral Nadja Cezar, além do lobista Magno Romero e representantes de outras firmas. O compromisso consta na agenda oficial da autarquia.
O ciclo de fraudes nas licitações
O esquema, segundo a PF, opera desde pelo menos 2021 e envolve três núcleos principais: a Life Tecnologia, agentes públicos e doleiros. Mariano criava demandas artificiais por seus produtos junto a secretários de educação municipais, fraudando licitações para que sua empresa vencesse os processos em troca de propinas.
Os itens vendidos pela Life chegavam a custar 35 vezes mais que o preço de mercado. Um livro adquirido por 5 reais era repassado por 80 reais, por exemplo. Em Hortolândia, secretários como Cafu César e Fernando Gomes de Moraes ajudavam a direcionar as vitórias da empresa, assinando atas de registro de preços e acelerando pagamentos de contratos inflados.
Após as eleições de 2022, as atividades se intensificaram. Mariano buscou ampliar sua rede em cidades petistas, apostando na proximidade de Kalil Bittar com o governo federal e recorrendo a Carla Ariane para intermediar contatos.
O Ministério da Educação não comentou o encontro, e a defesa de Carla Ariane também não foi localizada para posicionamento.
A Prefeitura de Hortolândia, em nota, afirmou ter sido pega de surpresa pela ação da PF e destacou que suas licitações seguem procedimentos rigorosos. A administração municipal disse monitorar os desdobramentos e se colocar à disposição das autoridades para eventuais esclarecimentos.
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