A relação entre o governo Lula (PT) e o Congresso Nacional enfrenta um momento delicado, segundo uma pesquisa da Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (2). Realizado entre 7 de maio e 30 de junho de 2025, o levantamento ouviu 203 deputados federais, o equivalente a 40% da Câmara, e apontou que 57% deles avaliam como baixa a chance de o governo conseguir aprovar suas pautas no Legislativo. Apenas 36% acreditam em chances altas de aprovação, enquanto 7% não souberam ou não responderam. A margem de erro da pesquisa é de 4,5 pontos percentuais.

O cenário reflete um desgaste crescente entre o Executivo e a Câmara, agravado pela recente crise envolvendo a derrubada do decreto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A decisão, liderada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), foi aprovada com ampla maioria e gerou uma reação do governo, que recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reverter a medida. Esse embate acirrou as tensões com o Legislativo, dificultando ainda mais a articulação política do Planalto.

Falta de articulação é principal entrave

Quando questionados sobre o motivo de poucas votações importantes terem ocorrido em 2024, 45% dos deputados apontaram a desarticulação política do governo como o principal obstáculo. Outros 33% atribuíram a paralisia ao impasse em torno da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, enquanto 15% citaram a demora na liberação de emendas parlamentares. Esses números revelam um Congresso que enxerga falhas na estratégia do governo para construir consensos.

A pesquisa também mediu a avaliação do governo Lula entre os deputados. Para 46% deles, a gestão é vista como negativa, o pior índice desde o início do mandato, em 2023. Apenas 27% aprovam o desempenho do presidente, enquanto 24% consideram a gestão regular e 3% não opinaram. A relação entre Lula e o Congresso foi classificada como negativa por 51% dos parlamentares, um aumento de 8 pontos em relação ao levantamento de maio de 2024, quando a Câmara ainda era presidida por Arthur Lira (PP-AL).

Posicionamento sobre pautas específicas

O levantamento abordou a posição dos deputados em relação a temas específicos. A ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda, uma das principais bandeiras do governo, tem apoio de 88% dos parlamentares. Por outro lado, 70% são contra o fim da escala de trabalho 6x1 (seis dias trabalhados por um de folga), proposta defendida pelo PSOL por meio de uma PEC da deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que não avançou na Casa. Além disso, 83% dos deputados são favoráveis à exploração de petróleo na foz do Amazonas, enquanto 53% se opõem à regulamentação dos supersalários. A PEC da Segurança Pública, outra iniciativa do governo, conta com o apoio de 42% da Câmara.

Perspectivas para 2026

A pesquisa também trouxe um olhar sobre o futuro político. Para 68% dos deputados, Lula será candidato à reeleição em 2026, mas 50% acreditam que o favorito será um nome da oposição, com destaque para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), citado como preferido tanto por parlamentares quanto por eleitores em levantamentos anteriores da Quaest.

A amostra da pesquisa foi composta por 32% de deputados governistas, 32% de oposicionistas, 27% de independentes e 9% que não declararam posicionamento. A escolha dos entrevistados respeitou a proporcionalidade por região e partido, com base no projeto Brazilian Legislative Surveys, garantindo representatividade.

O momento é de desafio para o governo Lula, que enfrenta não apenas a resistência no Congresso, mas também uma queda de popularidade entre a população, como apontam outras pesquisas recentes. A capacidade de articular alianças e superar entraves será crucial para o avanço de sua agenda nos próximos meses.

Siga-nos no Instagram para resumos e notícias diárias: @joinville_360