O custo de ignorar o clima: Um obstáculo para a COP30
Diplomacia climática esbarra na dificuldade de calcular o preço da inação frente aos desastres ambientais

A crise climática não é mais uma previsão distante, mas uma realidade que bate à porta com enchentes, secas e tempestades cada vez mais intensas. Ainda assim, o debate global sobre o aquecimento global, que ganhará destaque na COP30 em Belém, em 2025, enfrenta um entrave pouco discutido: o negacionismo econômico. O termo, apresentado pelo embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência, aponta para a relutância em reconhecer o impacto financeiro de não agir contra as mudanças climáticas.
Ana Toni, diretora-executiva da COP30, resume a questão com clareza: “Todos estão ignorando o custo da inação”. Em entrevista recente, ela destacou que os prejuízos de eventos climáticos extremos – como as enchentes no Rio Grande do Sul ou as secas que devastam safras – recaem sobre cidadãos, seguradoras e, principalmente, os cofres públicos. “É insustentável continuar pagando o preço da inércia”, alerta.
A ciência já não deixa dúvidas: os eventos extremos, previstos há décadas, são uma realidade. O negacionismo climático, que questionava os dados científicos, perdeu força diante da evidência. No entanto, o negacionismo econômico persiste, alimentado pela resistência de governos e setores privados em investir o necessário na transição energética, no combate ao desmatamento e na adaptação de infraestruturas. A ideia de que prevenir desastres é mais caro do que remediar suas consequências ainda prevalece, apesar de estimativas como as do Banco Mundial, que apontam perdas anuais de até US$ 520 bilhões devido a fenômenos climáticos.
A COP30 surge como um momento crucial para mudar essa lógica. Corrêa do Lago propõe o conceito de “mutirão pelo clima”, uma chamada à ação coletiva que mobilize países, empresas e sociedade civil. Mas o sucesso da conferência dependerá de superar a visão míope que trata investimentos em sustentabilidade como gastos, e não como economia a longo prazo. Enquanto nações ricas hesitam em financiar a transição energética e países em desenvolvimento arcam com os custos de desastres, a conta da inação só aumenta.
A urgência é clara: o debate diplomático precisa avançar para além de promessas vagas. Calcular o preço dos desastres – e mostrar que prevenir é mais barato do que remediar – é o primeiro passo para transformar a COP30 em um marco real na luta contra a crise climática.
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