Prof. João Réus Santos
Bebês Reborn: Uma história de emoção, arte e reflexão

Imagine um boneco tão real que, à primeira vista, você poderia confundi-lo com um bebê de verdade. Ele tem pele macia, ruguinhas delicadas, cabelos implantados fio a fio e até um leve pulsar que imita batimentos cardíacos. Esses são os bebês reborn, que se tornaram uma febre no Brasil em 2025, enchendo as redes sociais com vídeos emocionantes, engraçados e, por vezes, polêmicos. Mais do que brinquedos, os bebês reborn carregam uma história de esperança, arte e conexão emocional, mas também levantam questões sobre seu impacto na saúde mental. Vamos explorar a trajetória desses bonecos, entender por que existem, quem se encanta por eles e o que essa paixão revela sobre nós.
A história dos bebês reborn começou nos anos 1940, logo após a Segunda Guerra Mundial. Em um mundo marcado pela escassez, com fábricas voltadas para a guerra, brinquedos eram raros. Foi então que surgiram as primeiras bonecas reborn, criadas para trazer alegria às crianças. Com rostos mais humanos e sorrisos acolhedores, elas simbolizavam renascimento — daí o nome "reborn", que significa "renascido" em inglês. Eram brinquedos simples, feitos para aquecer o coração em tempos de reconstrução.
Nos anos 1990, nos Estados Unidos, os bebês reborn ganharam um novo capítulo. Artesãos transformaram essas bonecas em verdadeiras obras-primas, usando vinil e silicone para criar detalhes impressionantes: veias aparentes, cílios delicados e até dispositivos que simulam respiração ou xixi. Cada boneco tornou-se uma peça única, muitas vezes encomendada para lembrar um filho ou eternizar um momento especial. No Brasil, hoje, um bebê reborn pode custar entre R$ 750 e R$ 9 mil, chegando a R$ 50 mil nos modelos mais sofisticados. É um trabalho artesanal que combina técnica, paciência e emoção.
Mas para que servem os bebês reborn? Inicialmente, eram brinquedos para crianças, mas hoje conquistam públicos bem diferentes. Há crianças que brincam com modelos mais simples e acessíveis. Há colecionadores, incluindo celebridades, que veem os bebês reborn como arte, quase como esculturas. Há também quem busca conforto emocional: pessoas que perderam um bebê, enfrentam dificuldades para engravidar ou convivem com a solidão. Para elas, o bebê reborn é como um abraço, uma forma de lidar com a dor ou a saudade. Idosos, por exemplo, encontram nesses bonecos uma maneira de aliviar a solidão ou reviver a alegria de cuidar. E, claro, há os criadores de conteúdo, que usam os bebês reborn para produzir vídeos no TikTok e Instagram, muitas vezes com humor, para atrair curtidas e até ganhar dinheiro.
Em 2025, os bebês reborn viraram uma febre no Brasil. Vídeos mostram pessoas trocando fraldas, dando mamadeira ou levando os bonecos para "passear". No entanto, nem tudo é brincadeira. Algumas histórias chamam atenção, como a de uma jovem que levou seu bebê reborn ao hospital, alegando que ele estava com "febre", ou de um casal que brigou pela "guarda" de um boneco após o término. Muitos desses casos parecem encenações para viralizar, mas alimentaram o debate público. Alguns projetos de lei já propõem proibir atendimentos médicos a bonecos ou punir quem usa bebês reborn para obter vantagens, como furar filas, com multas que podem chegar a R$ 30 mil.
E o que isso tudo revela sobre nossa saúde mental? Para algumas pessoas, os bebês reborn são incríveis. Para quem sofreu uma perda ou vive isolado, eles oferecem conforto, como um amigo que não julga. Há histórias de idosos que, ao cuidar de um bebê reborn, ficam mais calmos e felizes. No entanto, há um outro lado. Quando alguém começa a tratar o boneco como um bebê de verdade, esquecendo que é um objeto, a situação pode se complicar. Esse apego extremo pode levar a um distanciamento da realidade, afastando a pessoa de amigos e familiares e até agravando quadros de ansiedade ou depressão. Em casos raros, pode intensificar problemas mais sérios.
A sociedade também tem sua parcela de responsabilidade. Frequentemente, quem cuida de bebês reborn é julgado ou ridicularizado nas redes sociais, com comentários que machucam e estigmatizam. Isso é injusto, especialmente porque, para muitas pessoas, esses bonecos são uma forma de lidar com dores profundas. Por outro lado, a febre dos bebês reborn pode refletir pressões sociais, como a ideia de que ser mãe é a única forma de realização para uma mulher. Esse peso cultural pode levar algumas pessoas a buscar nos bonecos uma fuga ou uma maneira de preencher um vazio.
Os bebês reborn são mais do que bonecos — são um espelho das nossas emoções e da nossa busca por conexão em um mundo acelerado. Eles começaram como um raio de esperança no pós-guerra, tornaram-se arte e hoje fazem parte de um fenômeno que mistura afeto, criatividade e, às vezes, exagero. A chave é o equilíbrio: para quem encontra neles conforto, são uma ferramenta poderosa; para quem cruza a linha do lúdico, pode ser hora de buscar apoio. Para todos nós, é um convite a olhar com mais empatia, sem julgamentos, para as histórias que cada pessoa carrega.
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