Jimmy Cliff, lenda do reggae, parte aos 81 anos
Lenda jamaicana deixa legado eterno na música mundial
Reprodução O cantor e compositor jamaicano Jimmy Cliff, um dos pilares do reggae, faleceu aos 81 anos. A notícia veio em um comunicado da família, assinado pela esposa Latifa, que descreveu o momento com dor profunda. O artista partiu após uma convulsão seguida de pneumonia, deixando um vazio na cena musical global. A mensagem agradece o carinho dos fãs, amigos e colegas que o acompanharam por décadas, e pede espaço para o luto familiar. Mais detalhes sobre o velório e homenagens devem sair nos próximos dias.
Latifa destacou o apoio que sustentou a trajetória do marido. "Aos fãs pelo mundo, o amor de vocês era a força dele", escreveu, em tom de gratidão sincera. Ela também elogiou a dedicação da equipe médica, liderada pelo doutor Couceyro, e prometeu honrar os desejos do companheiro. O texto termina com uma despedida afetuosa: "See you and we see you, Legend", assinada por Latifa, Lilty e Aken.

Pilares de uma carreira gigante
Jimmy Cliff construiu uma ponte entre o ska jamaicano e o reggae moderno, influenciando artistas de todos os cantos. Sucessos como "The Harder They Come", "You Can Get It If You Really Want" e "Many Rivers to Cross" viraram hinos de resistência e alma. Ele protagonizou o filme "The Harder They Come", de 1972, que escancarou o reggae para o mundo e a cultura rastafári para além da Jamaica.
Mesmo idoso, Cliff seguia na ativa em Kingston, sua base, com composições frescas e planos para o futuro. Seu último single, "Human Touch", resgatou as raízes do reggae dos anos 1960 e tocou em temas de isolamento na pandemia, mostrando uma voz ainda afiada e reflexiva.
Raízes no Brasil, um amor recíproco
O Brasil ocupou um lugar especial na vida de Cliff, quase como um segundo lar. Tudo começou em 1968, quando ele pisou no Rio para o Festival Internacional da Canção, no Maracanãzinho, defendendo "Waterfall". A vibe da cidade o pegou de jeito: ali nasceu "Wonderful World, Beautiful People", um clássico inspirado nas ruas cariocas. No mesmo ano, ele gravou o disco "Jimmy Cliff in Brazil", com fotos na Praia de Botafogoe covers em inglês de "Andança" e "Vesti Azul".
Nos anos 1980, as visitas viraram rotina, a ponto de virar piada entre os fãs da Zona Sul: "Basta andar por Copacabana que você topa com ele". Cliff ria e contava que deve ter passado uns cinco anos por aqui, embora negasse que a mulher fosse brasileira. "Ela é marroquina", esclarecia, entre gargalhadas.

Em 1984, ele filmou o clipe de "We All Are One" nas praias do Rio, com direção de Tizuka Yamasaki, reforçando esse laço. Na Bahia, mergulhou na herança africana e achou um pedaço de si mesmo. "Ter visto isso e feito parte é sensacional", disse uma vez sobre a conexão com a diáspora. Foi em Salvador, em 1992, que nasceu a filha dele, Nabiyah Be, com a psicóloga Sônia Gomes da Silva. Anos depois, ela brilhou em "Pantera Negra", da Marvel, enchendo o pai de orgulho.
Um episódio marcante rolou em 1980, em show com Gilberto Gil. Minutos antes de subir ao palco, Cliff soube da morte do pai. Mesmo assim, cantou com uma intensidade fora do comum. "Veio uma energia forte aquela noite. Eu me ouvi com uma potência que nunca tinha sentido", recordou.
A música brasileira ganhou toques dele também: no "Acústico MTV" dos Titãs, ele revisitou "Querem Meu Sangue", versão de "The Harder They Come". Cliff amava o país pelas paisagens, pela história compartilhada e, acima de tudo, pelas gentes. Sentia falta do Rio e da "africanidade da Bahia", como repetia.
O reggae perde um de seus gigantes, mas o eco de Cliff segue vivo nos discos, nos palcos e nas memórias que ele plantou aqui. Uma voz que cruzou oceanos agora descansa, enquanto gerações inteiras de músicos brasileiros e do mundo carregam sua essência adiante.
Siga-nos no Instagram para resumos e notícias diárias: @joinville_360





COMENTÁRIOS