Diário de Bordo

A (D)Evolução Musical
Uma grande evolução na forma de ouvir música

Bom, vou falar por mim. Quando eu tinha uns 11 anos, dormia com o rádio embaixo do travesseiro. Geralmente, ele caía no assoalho de madeira da casa, e as pilhas saíam rolando. Sempre levava uma bronca dos meus pais por isso. Ouvia muita música boa naquela época, não que as atuais não sejam; é só uma forma de expressão. Eu ia ao orelhão tentar participar de sorteios de ingressos para shows que passavam por Curitiba. Nunca ganhei, e nem poderia ir se ganhasse. Já com uns 13 anos, tinha em casa um rádio gravador, então eu me preparava para gravar as canções que ecoavam pelas ondas do rádio, sempre torcendo para não aparecer aquela vinheta: “SUCESSO AQUI NA TRANSAMÉRICA!”. Nossa, que raiva! Mas isso era normal para as rádios; eles faziam isso porque sabiam que íamos gravar. Então, no final de 1983, meus pais compraram um toca-discos no Jumbo Eletro. Pensa na modernidade que havia chegado naquela casa! Mas tinha um grande problema: agora tínhamos que comprar os discos de vinil.
NO BRASIL, O DISCO DE VINIL FOI LANÇADO COMERCIALMENTE EM 1951, MAS SÓ COMEÇOU A SUPLANTAR O DISCO DE 78 ROTAÇÕES EM 1964 E DOMINOU O MERCADO ATÉ 1996.
Meu pai tinha uns discos de karaokê, kkkk. A gente colocava para tocar e cantava, e não tinha vinhetas, kkkk. Mas, claro, não tínhamos a variedade do rádio. Então, ganhei o primeiro vinil da minha mãe e, depois, comecei a comprar meus próprios discos de vinil, uma modernidade incrível, com lado A e lado B. Comprávamos vinil só por algumas músicas, tipo o tema Footloose - Ritmo Louco, meu primeiro filme sozinho no cinema. Claro que corri para comprar o disco, kkk! Depois, veio o tema internacional da novela Sol de Verão. Nesse disco, tinha Love Leads to Madness – Nazareth, Voyeur – Kim Carnes, Save a Prayer – Duran Duran, I Don’t Wanna Dance – Eddy Grant. Já era uma evolução. Depois, comprei o disco do primeiro Rock in Rio, de 1985, um disco realmente quase todo de rock, com Queen, Yes, Ozzy, Def Leppard, Scorpions, Go-Go’s, o tema do Rock in Rio e outros clássicos.
Ficamos assim por alguns anos. Depois, trocávamos discos com os amigos, o que era muito interessante porque acabávamos descobrindo coisas novas. Eu já visitava as rádios e ficava impressionado com a quantidade de vinis que elas possuíam. A maioria com aquele carimbo “AMOSTRA GRÁTIS – INVENDÁVEL”. E assim foi até por volta de 1992. Nessa época, eu tinha uma pequena loja de discos de vinil, a Brain Death Discos. Nesse momento, eu ia para São Paulo buscar discos para vender na loja e, ao mesmo tempo, tive que começar a trazer alguns CDs.
COM O SURGIMENTO DE NOVAS TECNOLOGIAS, O DISCO DE VINIL FOI SENDO SUBSTITUÍDO POR FORMATOS MAIS MODERNOS, COMO CDs E PLATAFORMAS DIGITAIS. DESSE MODO, AS GRANDES GRAVADORAS PRODUZIRAM LPs ATÉ 31 DE DEZEMBRO DE 1997, FAZENDO O VINIL PRATICAMENTE DESAPARECER DAS PRATELEIRAS DO VAREJO FONOGRÁFICO. ASSIM, EM 2002, O CD JÁ DOMINAVA 72% DO MERCADO MUNDIAL.
Eram um pouco caros para a época, mas tínhamos a ilusão de que a qualidade sonora dos CDs era melhor que a do vinil; afinal, era uma modernidade. E, com a força do CD nos carros e o discman, fomos nos desfazendo dos discos de vinil. Claro que tem aqueles que sempre acreditaram e sabem da qualidade do vinil e mantiveram suas coleções; esses foram os mais espertos. Acabei adquirindo muitos CDs por alguns anos e fiz uma estante apropriada para guardá-los. Há pouco tempo, vendi minha coleção de CDs e voltei a comprar discos de vinil. Nada como a sensação de abrir a embalagem, ver o encarte, as letras... Alguns importados vêm com pôster, livretos; os vinis picture são uma atração à parte. Mas os preços do vinil no Brasil estão altíssimos, principalmente os de rock. Discos usados custam, em média, 150 reais, e novos, lacrados, na faixa de 400 reais. Lá fora, os discos têm um preço muito acessível. Já tive a experiência de trazer discos usados por 1 dólar e novos, lacrados, de 180 gramas, entre 20 e 50 dólares. Sem conversão, os discos para eles saem muito em conta, porque, como ganham em dólar, seria como se comprássemos vinis novos, lacrados, por 20 ou 50 reais. Mas isso está muito longe da realidade do nosso país. Existem alguns sites internacionais que nos permitem adquirir discos de vinil clássicos ou lançamentos com preços superacessíveis. Mas vale a pena quando compramos com amigos e dividimos os valores do frete; fica a dica.
Fico feliz quando encontro discos de bandas nacionais nas lojas gringas. Sepultura, geralmente, tem todos; também tem Krisiun, e fiquei muito feliz que, recentemente, encontrei na AUX33, em Montreal, dois discos de vinil da banda brasileira Mystifier, de Salvador. Discos novos, lacrados, sendo que aqui no Brasil é muito difícil encontrar esses discos. Aliás, é muito difícil encontrar vinis novos, lacrados, de bandas nacionais de metal. Creio que deve ser muito caro fazer a prensagem aqui. Lá fora, as bandas vendem discos de vinil em shows, que variam entre 25 e 30 dólares. Sempre reforçando que esse valor é muito baixo, considerando a moeda local.
RELATÓRIO DA ASSOCIAÇÃO AMERICANA DA INDÚSTRIA DE GRAVAÇÃO REVELOU QUE, SOMENTE NO ANO PASSADO, FORAM VENDIDOS MAIS DE 41 MILHÕES DE DISCOS DE VINIL CONTRA 33 MILHÕES DE CDs, O QUE REPRESENTA UM LUCRO DE MAIS DE 6 MILHÕES DE REAIS. PELA PRIMEIRA VEZ, DESDE 1987, AS VENDAS DE DISCOS DE VINIL ULTRAPASSARAM AS DE CDs.
OUTRO MEIO DE OUVIR MÚSICA:
No meio de rádios, vinis, fitas cassete e CDs, temos as plataformas digitais. Foi uma grande evolução na forma de ouvir música. Conheço pessoas que detestam esse formato, mas eu curto muito ter minha playlist musical nas minhas caminhadas ou para ouvir em viagens. Mas, com certeza, para nós, amantes do vinil, nada como um bom toca-discos com nosso artista preferido rolando nas caixas de som a todo vapor.
A PRIMEIRA VEZ QUE UMA EMPRESA DECIDIU FAZER UMA TRANSMISSÃO POR STREAMING FOI NO INÍCIO DOS ANOS 1990. NA OCASIÃO, A PROGRESSIVE NETWORKS, QUE INVENTOU O REAL AUDIO, FEZ UMA TRANSMISSÃO BEM SIMPLES, AINDA EM MONO, E COM ARQUIVOS MUITO REDUZIDOS.
Bom, eu ainda continuo ouvindo rádios específicas para o meu gosto musical. O rádio ainda é um dos meios de comunicação mais confiáveis, porque traz as informações em tempo real, transmite jogos e, claro, tem que ser aquelas transmissões clássicas de narradores dos anos 70. E, como todo bom amante de boa música, nada mais importante do que podermos ouvir o que gostamos, seja no rádio, em fitas cassete, streaming ou, claro, o bom e velho disco de vinil. Então, mexa seu esqueleto, porque a música transmite paz, nos traz lembranças boas de nossa infância, família e momentos especiais.
A VOLTA DO VINIL, ASSIM, PARECE ESTAR LIGADA ÀS PREFERÊNCIAS DOS CONSUMIDORES: A IDEIA DO RETRÔ, DO NOSTÁLGICO, A FELICIDADE DE TOCAR E VER UMA CAPA DE ÁLBUM, MUDAR O DISCO DE UM LADO PARA O OUTRO, TER PERCEPÇÕES MUSICAIS DIFERENTES, DEDICAR TEMPO PARA OUVIR MÚSICA E ESCUTÁ-LA COM MAIS ATENÇÃO.
Na minha opinião, a forma de ouvir música não tem muito para onde ir; vai sempre ter novos formatos e criações atualizadas dos já existentes. Mas, se você tem uma ideia diferente, me conte quando nos encontrarmos. Por isso, prefiro dizer que a forma de ouvir música será sempre a (d)evolução musical.
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