Partidos do governo se unem contra aumento de impostos de Haddad
PP e União Brasil rejeitam medida provisória que eleva tributos para compensar recuo no IOF

BRASÍLIA – Em um movimento que pode complicar os planos do governo Lula, os partidos PP e União Brasil, que juntos controlam quatro ministérios, decidiram se posicionar contra a medida provisória (MP) proposta pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para aumentar a arrecadação em 2025. A decisão foi anunciada nesta quarta-feira (11) pelos presidentes das siglas, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e Antonio Rueda (União Brasil), em entrevista coletiva no Salão Verde da Câmara dos Deputados.
A MP, que deve ser publicada ainda hoje, prevê mudanças na tributação de instituições financeiras, aumento da taxação sobre apostas esportivas (de 12% para 18%) e a cobrança de 5% de Imposto de Renda sobre títulos até então isentos, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). Essas ações buscam compensar a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que gerou forte resistência no Congresso e no setor empresarial.
Os dois partidos, que formam uma federação e reúnem 109 deputados federais e 14 senadores, decidiram “fechar questão” contra a proposta, obrigando suas bancadas a votarem unidas contra o aumento de impostos. “Contas públicas não se resolvem só com mais impostos. É preciso cortar desperdícios com urgência”, declarou Ciro Nogueira, ecoando críticas de parlamentares e empresários que cobram medidas de contenção de gastos.
A resistência de PP e União Brasil, aliados importantes do governo, pode inspirar outros partidos de centro-direita a seguirem o mesmo caminho, dificultando a aprovação da MP, que entra em vigor imediatamente, mas precisa ser validada pelo Congresso em até 120 dias. A taxação de LCIs e LCAs, que impacta setores como o imobiliário e o agronegócio, é um dos pontos mais polêmicos, enquanto o aumento na tributação das bets encontra maior apoio entre parlamentares, que veem a medida como uma forma de conter os impactos negativos das casas de apostas.
A ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, defendeu a proposta, argumentando que ela promove “correções tributárias importantes”. Em postagem no X, Gleisi questionou a resistência à cobrança de 5% sobre títulos financeiros, destacando que “só quem tem mais dinheiro investe nesses ativos”. O governo aposta nos quatro meses de tramitação da MP para negociar com o Congresso e mobilizar a opinião pública, buscando garantir a aprovação de pelo menos parte das medidas.
Apesar do embate, o governo Lula insiste na necessidade de zerar o déficit primário em 2025, sem novos cortes no Orçamento, que já sofreu um bloqueio de R$ 30 bilhões. A oposição, liderada por deputados como Carlos Jordy (PL-RJ) e Nikolas Ferreira (PL-MG), intensificou as críticas, acusando o governo de “criar impostos sem oferecer contrapartidas”. Em resposta, Haddad classificou as ações da oposição como “molecagem” durante uma sessão na Câmara, o que gerou bate-boca e a suspensão da reunião.
Enquanto o governo tenta equilibrar as contas públicas, a resistência de aliados e a pressão do mercado financeiro colocam Haddad em uma posição delicada. A batalha no Congresso será decisiva para definir o futuro das medidas fiscais e o rumo da política econômica do governo.
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