A televisão aberta no Brasil está prestes a ganhar um novo capítulo com a chegada da TV 3.0, uma evolução tecnológica que promete revolucionar a experiência do espectador e reacender o interesse de anunciantes que migraram para a internet. Com previsão de testes a partir de 2025 e implementação total até a Copa do Mundo de 2026, a nova tecnologia trará interatividade, imagens em até 8K e som imersivo, aproximando a TV aberta da experiência de plataformas de streaming, mas de forma gratuita via sinal de antena.

Imagine assistir a um jogo de futebol e, com o controle remoto, silenciar o narrador para ouvir apenas o som do estádio, com os gritos dos técnicos e a vibração da torcida. Ou, durante um programa de culinária, clicar em um link na tela para comprar os ingredientes da receita ou até a panela usada pela apresentadora, aproveitando um cupom de desconto. Essas são algumas das possibilidades que a TV 3.0 oferecerá, combinando a praticidade da internet com a acessibilidade da televisão aberta.

De acordo com o Cenp (Fórum de Autorregulamentação do Mercado Publicitário), a TV aberta perdeu espaço nos últimos anos, caindo de 58,7% do mercado publicitário em 2017 para 36,5% em 2024, enquanto a internet saltou de 14,8% para 40% no mesmo período. A TV 3.0 surge como uma resposta a esse cenário, oferecendo aos anunciantes um nível de segmentação e personalização antes exclusivo do ambiente digital. “Tudo o que levou as pessoas a trocarem a TV pelo celular agora estará disponível na TV 3.0”, afirma o publicitário Peralta, destacando a capacidade da nova tecnologia de usar inteligência artificial para identificar o perfil do espectador e entregar conteúdos personalizados, como esportes, culinária ou documentários.

A qualidade de imagem será outro diferencial, com suporte a resoluções de até 8K e som com experiência de cinema. Para acessar todos os recursos, como a interatividade, será necessário um conversor, com preço estimado entre R$ 400 e R$ 500. No entanto, quem preferir manter o aparelho atual ainda poderá desfrutar de melhorias em imagem (4K) e som, sem a necessidade de troca do televisor. “A migração não é obrigatória, e as emissoras manterão a programação convencional no ar”, explica o ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho.

Outro avanço importante é a regionalização dos anúncios. A TV 3.0 permitirá que pequenos comerciantes, como donos de açougues, mercadinhos ou padarias, anunciem diretamente em seus bairros, sem depender de redes sociais ou influenciadores. “Em São Paulo, por exemplo, será possível veicular propagandas específicas para a zona oeste ou norte, ou até para um bairro específico”, destaca Barros, reforçando que essa inovação abre espaço para negócios locais na TV aberta.

Além do entretenimento, a TV 3.0 também trará serviços públicos. Segundo o ministro, os telespectadores poderão acessar informações e serviços do governo diretamente pela tela, como agendamentos ou consultas. As discussões para a implementação da tecnologia, chamada Digital Television + (DTV+), começaram há cinco anos, e um decreto de 2023 do governo Lula definiu as diretrizes para sua adoção. O Ministério das Comunicações trabalha com o BID e bancos regionais para viabilizar o financiamento necessário, incluindo linhas de crédito para emissoras e fabricantes de conversores.

Com a promessa de unir interatividade, qualidade técnica e acessibilidade, a TV 3.0 pode reposicionar a TV aberta como uma mídia estratégica, capaz de competir com o universo digital e reconquistar o público e os anunciantes. A transição, no entanto, será desafiadora, exigindo investimentos e planejamento para garantir que a tecnologia chegue a todos os brasileiros de forma inclusiva.

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