China intensifica compra de minas globais para garantir recursos estratégicos
Negociações atingem maior patamar desde 2013, com empresas chinesas buscando matérias-primas essenciais

A China está acelerando a aquisição de minas ao redor do mundo, em uma corrida para assegurar o fornecimento de matérias-primas que sustentam a economia global. Em 2024, as empresas chinesas fecharam 10 negócios acima de US$ 100 milhões (cerca de R$ 541 milhões), o maior volume desde 2013, segundo análise de dados da S&P e da Mergermarket. A urgência reflete a crescente tensão geopolítica, com o país buscando reduzir sua dependência de cadeias de suprimento externas.
Michael Scherb, fundador da Appian Capital Advisory, destacou que o ritmo das negociações aumentou nos últimos 12 meses. “Os grupos chineses acreditam que têm uma janela de curto prazo para realizar fusões e aquisições antes que a geopolítica se torne ainda mais desafiadora”, afirmou. Um exemplo recente é a compra, em abril de 2024, da mina de cobre e ouro Mineração Vale Verde, no Brasil, pela chinesa Baiyin Nonferrous Group, por US$ 420 milhões (R$ 2,27 bilhões). Outro caso é o plano da Zijin Mining de adquirir uma mina de ouro no Cazaquistão por US$ 1,2 bilhão (R$ 6,49 bilhões).
A estratégia chinesa é impulsionada pela necessidade de garantir recursos como cobre, ouro e terras raras, essenciais para indústrias que vão de tecnologia a energia renovável. Em 2024, a China extraiu 70% das terras raras do mundo e processou 90% delas, além de produzir mais de 80% das baterias globais e 70% dos carros elétricos, segundo a Agência Internacional de Energia. Essa dominância reforça a posição do país em setores estratégicos, mas também aumenta a pressão para diversificar fontes de suprimento.
No Brasil, a presença chinesa no setor de mineração também tem crescido. Além da aquisição da Mineração Vale Verde, a estatal chinesa CNT comprou, em novembro de 2024, a mina de estanho Taboca, na Amazônia, por US$ 340 milhões (R$ 2 bilhões). A reserva, que inclui nióbio e tântalo, é estimada para durar um século, destacando o interesse de longo prazo da China em recursos brasileiros.
A onda de aquisições ocorre em um contexto de tensões comerciais, especialmente com os Estados Unidos. Em abril de 2025, as tarifas americanas sobre produtos chineses chegaram a 145%, levando Pequim a retaliar com restrições às exportações de terras raras. Apesar de um acordo em Genebra para reduzir tarifas, as negociações seguem frágeis, com os EUA acusando a China de descumprir compromissos. Enquanto isso, Pequim busca fortalecer laços com países emergentes, como os do Brics, para consolidar sua influência global.
O movimento da China reflete uma estratégia clara: assegurar o controle de recursos vitais antes que o cenário geopolítico se complique ainda mais. Para analistas, essa corrida por minas pode redefinir as cadeias globais de suprimento, impactando desde a produção de tecnologia até a transição energética mundial.
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