Cresce o peso dos custos para trabalhadores de aplicativos no Brasil
Estudo aponta queda na renda líquida de motoristas e entregadores devido a despesas com manutenção e combustíveis

Um estudo recente da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), encomendado pela Amobitec, revela um cenário preocupante para os trabalhadores de aplicativos de transporte e entrega no Brasil. Entre 2022 e 2024, a renda líquida de motoristas e entregadores caiu significativamente, pressionada pelo aumento dos custos operacionais, como manutenção de veículos, combustíveis e taxas cobradas pelas plataformas. A pesquisa, que entrevistou 1.012 profissionais em cinco capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre), mostra que, apesar do aumento no faturamento bruto, as despesas crescentes corroem os ganhos, dificultando a sustentabilidade financeira desses trabalhadores.
O levantamento destaca que os motoristas de aplicativos de transporte, como Uber e 99, viram sua renda líquida média mensal recuar 4%, de R$ 3.058 em 2022 para R$ 2.936 em 2024. Já os entregadores de plataformas como iFood e Rappi enfrentaram uma queda ainda mais expressiva, de 11%, com a renda líquida passando de R$ 2.083 para R$ 1.853 no mesmo período. O principal vilão é o custo de manutenção, que inclui gastos com combustíveis, revisões de veículos e aluguel de motos ou carros, muitas vezes financiados pelos próprios trabalhadores. Em 2024, esses custos representaram, em média, 52% do faturamento bruto dos motoristas e 46% dos entregadores.
Outro ponto crítico é a jornada de trabalho. A pesquisa revela que 48% dos motoristas e 53% dos entregadores trabalham mais de 9 horas por dia, frequentemente ultrapassando 12 horas, para compensar a queda na renda. Apesar disso, a flexibilidade de horários continua sendo um atrativo, com 90% dos entrevistados valorizando a autonomia proporcionada por esse modelo de trabalho. No entanto, a falta de benefícios trabalhistas, como férias ou seguro, e a ausência de uma regulamentação clara agravam a precarização da categoria.
A Amobitec defende que a regulamentação do setor, em discussão no Congresso, deve equilibrar a proteção social dos trabalhadores com a manutenção da flexibilidade que caracteriza o trabalho por aplicativo. A associação propõe contribuições previdenciárias proporcionais aos ganhos, sem vínculo empregatício, para garantir direitos como aposentadoria sem comprometer a autonomia dos profissionais. Enquanto isso, trabalhadores como os motoboys, representados pela AMABR, cobram mais apoio das plataformas para custear despesas operacionais e melhorar as condições de trabalho.
O estudo também aponta para um aumento na percepção de insegurança. Cerca de 30% dos trabalhadores relataram medo de assaltos, especialmente em áreas periféricas, o que impacta diretamente a escolha de horários e regiões de atuação. Apesar dos desafios, a maioria ainda prefere o modelo autônomo à rigidez da CLT, mas exige mudanças para tornar o trabalho mais sustentável.
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