Médico de Roraima na disputa pela CBF: Quem é Samir Xaud e as sombras de fraude em sua trajetória
Candidato único à presidência da Confederação Brasileira de Futebol, Samir Xaud enfrenta processo por improbidade administrativa e questionamentos sobre sua gestão no Hospital Geral de Roraima


De Boa Vista ao Centro do Futebol Brasileiro
Natural de Boa Vista, Roraima, Samir Xaud é médico especializado em medicina esportiva e infectologia. Filho de José Gama Xaud, conhecido como Zeca Xaud, que presidiu a Federação Roraimense de Futebol por quatro décadas, Samir assumiu o comando da entidade em janeiro de 2025. Sua trajetória no esporte é recente, mas sua formação em Gestão de Futebol pela Federação Paulista de Futebol e sua atuação como gestor hospitalar o colocaram no radar do futebol nacional.
Fora dos gramados, Xaud também se aventurou na política. Em 2022, concorreu a deputado federal pelo MDB em Roraima, obtendo 4.816 votos e ficando como primeiro suplente. Caso eleito presidente da CBF, ele deve abrir mão dessa posição. Além disso, é proprietário de um centro de treinamento em Boa Vista, voltado para saúde e bem-estar, o que reforça sua ligação com o esporte e a gestão.
Sua candidatura à CBF ganhou força em meio à crise que abala a entidade. Após o afastamento de Ednaldo Rodrigues, em maio de 2025, por suspeitas de fraude em um acordo judicial envolvendo a assinatura de Antônio Carlos Nunes (Coronel Nunes), Xaud se consolidou como o favorito. Ele superou a concorrência de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista, que não conseguiu o apoio mínimo exigido pelo estatuto da CBF. Com promessas de modernização e transparência, Xaud parece próximo de assumir o comando da entidade que já foi marcada por escândalos sob Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo del Nero e Rogério Caboclo.
As Acusações de Fraude
Apesar do apoio político, a trajetória de Samir Xaud é marcada por controvérsias. Desde o final de 2023, ele é réu em um processo por improbidade administrativa movido pelo Ministério Público de Roraima (MP-RR). As acusações referem-se ao período em que foi diretor-geral do Hospital Geral de Roraima, entre 2017 e 2020. Segundo o MP-RR, Xaud e outros seis gestores teriam participado de um esquema de falsificação de documentos para simular a realização de plantões, exames, cirurgias e uso de equipamentos hospitalares. O esquema, que beneficiou a empresa Coopebras, contratada pela Secretaria de Saúde, teria causado um prejuízo de R$ 1,4 milhão aos cofres públicos.
O promotor Igor Costa, responsável pela ação, afirmou que os gestores agiram com “má-fé” e de forma “intencional e deliberada”. A ação tramita no Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), sem sentença até o momento. Em entrevista à Folha de S. Paulo no último dia 18, Xaud declarou que o processo foi “arquivado” e que as acusações teriam motivação política. Contudo, documentos do TJRR confirmam que a ação judicial segue ativa. Seus advogados esclareceram que ele se referia a um processo administrativo disciplinar, não à ação na Justiça, e afirmaram confiar no arquivamento do caso.
Outro episódio controverso envolve uma suspensão de dois anos (2018–2020) de suas funções como perito médico do TJRR. Em 2017, Xaud foi escalado para avaliar a perna de um motoqueiro em um caso de indenização de seguro DPVAT, mas examinou o braço, ignorando pedidos do Judiciário para esclarecimentos. O erro reforça críticas sobre sua conduta profissional.
Desafios à Frente da CBF
A candidatura de Xaud ocorre em um momento delicado para a CBF. A entidade enfrenta uma crise de credibilidade, agravada pela investigação sobre a suposta falsificação da assinatura de Coronel Nunes, que sofre de problemas cognitivos devido a um câncer cerebral. Além disso, 32 clubes das Séries A e B divulgaram um manifesto criticando gestões recentes da CBF, enquanto clubes como São Paulo e a Federação de Mato Grosso se recusaram a apoiar Xaud.
Apesar das acusações, Xaud nega irregularidades e sustenta que não há impedimentos legais para assumir cargos em entidades associativas como a CBF. Sua chapa promete reformas estruturais, mas as suspeitas de fraude podem comprometer a narrativa de transparência. Analistas apontam que, caso eleito, Xaud terá o desafio de restaurar a confiança no futebol brasileiro enquanto lida com um processo judicial que pode impactar sua reputação.
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