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Joinville,22/07/2025

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Dieta rica em ultraprocessados pode antecipar sinais de Parkinson, indica pesquisa

Estudo com mais de 42 mil participantes sugere que consumo elevado desses alimentos aumenta risco de sintomas precoces da doença neurodegenerativa

Fonte: redação360
Dieta rica em ultraprocessados pode antecipar sinais de Parkinson, indica pesquisa

Um estudo publicado na renomada revista científica Neurology trouxe novas evidências sobre os impactos negativos dos alimentos ultraprocessados na saúde, sugerindo que o consumo elevado desses produtos — como salgadinhos, refrigerantes, embutidos e alimentos prontos — pode acelerar o aparecimento de sintomas iniciais da doença de Parkinson. Com base em dados de mais de 42 mil participantes, a pesquisa identificou que pessoas com dietas ricas em ultraprocessados têm um risco significativamente maior de apresentar sinais não motores da doença, como constipação, distúrbios do sono REM, perda de olfato, sonolência diurna, dores corporais, alterações na visão de cores e sintomas depressivos. Esses sinais podem surgir anos, ou até décadas, antes dos sintomas motores clássicos, como tremores, o que reforça sua importância para um diagnóstico precoce.

Metodologia e acompanhamento de longo prazo

A pesquisa, conduzida por uma equipe liderada por Xiang Gao, professor do Instituto de Nutrição da Universidade Fudan, na China, analisou dados coletados ao longo de mais de duas décadas. Entre 1984 e 2006, os 42 mil participantes responderam a questionários detalhados sobre seus hábitos alimentares, permitindo aos pesquisadores quantificar o consumo diário de alimentos ultraprocessados. Com base nessas respostas, os voluntários foram divididos em cinco grupos, que variavam desde aqueles com menor consumo (média de até três ultraprocessados por dia) até os de maior consumo (média de 11 tipos diferentes de ultraprocessados diariamente).

Em 2012, o estudo entrou em uma nova fase, focada na identificação de sintomas não motores associados ao Parkinson. Os participantes relataram a presença de distúrbio comportamental do sono REM — caracterizado por movimentos bruscos durante o sono — e constipação, ambos reconhecidos como sinais precoces da doença. Nos anos de 2014 e 2015, os pesquisadores ampliaram a coleta de dados, perguntando sobre outros sintomas, como diminuição do olfato, alterações na percepção de cores, sonolência diurna excessiva, dores crônicas no corpo e sintomas depressivos. Esses sinais são particularmente relevantes, pois podem preceder em muito os sintomas motores, oferecendo uma janela para intervenções precoces.

Resultados alarmantes

Para analisar a relação entre o consumo de ultraprocessados e os sintomas de Parkinson, os pesquisadores reorganizaram os participantes em quatro grupos, com base no número de sintomas não motores relatados: nenhum sintoma, um sintoma, dois sintomas ou três ou mais sintomas. Os resultados foram claros: indivíduos no grupo de maior consumo de ultraprocessados (11 tipos por dia) apresentaram um risco mais que dobrado de desenvolver pelo menos três dos sete sintomas avaliados, em comparação com aqueles que consumiam até três ultraprocessados por dia. Essa associação sugere que dietas ricas em ultraprocessados podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento precoce de Parkinson.



Por que os ultraprocessados são um risco?

Xiang Gao explica que os alimentos ultraprocessados, caracterizados por altos níveis de açúcares, gorduras trans, aditivos químicos e baixo valor nutricional, já foram associados em estudos anteriores a uma série de problemas de saúde, incluindo obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. No contexto neurológico, esses alimentos podem contribuir para inflamações crônicas, estresse oxidativo e alterações na microbiota intestinal — fatores que promovem a morte de neurônios dopaminérgicos, característica central do Parkinson. “Os ultraprocessados podem criar um ambiente no organismo que favorece o surgimento de condições neurodegenerativas, como o Parkinson”, afirma Gao. Ele destaca, no entanto, que a pesquisa é a primeira a explorar essa relação específica com sintomas não motores, o que torna os achados inovadores, mas preliminares.

Limitações e próximos passos

Embora os resultados sejam significativos, os autores do estudo reconhecem que mais pesquisas são necessárias para confirmar a causalidade entre o consumo de ultraprocessados e o Parkinson. Como o estudo é observacional, ele demonstra uma associação, mas não prova que os ultraprocessados causam diretamente os sintomas. Fatores como estilo de vida, predisposição genética e outros hábitos alimentares podem influenciar os resultados. Além disso, os dados foram baseados em autorrelatos, o que pode introduzir vieses.

Os pesquisadores já planejam novos estudos para aprofundar a investigação. Uma das próximas etapas será avaliar se a redução do consumo de ultraprocessados em indivíduos com sintomas não motores pode retardar a progressão para o diagnóstico clínico de Parkinson. “Se conseguirmos demonstrar que mudanças na dieta podem alterar o curso da doença, isso poderia abrir novas possibilidades para prevenção e tratamento”, diz Gao.

Impacto na saúde pública

Os achados reforçam a crescente preocupação com o consumo de alimentos ultraprocessados, que dominam as dietas modernas em muitos países, incluindo o Brasil. No contexto da saúde pública, a pesquisa destaca a importância de promover dietas ricas em alimentos in natura ou minimamente processados, como frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras. Além disso, o estudo sublinha a relevância de monitorar sintomas não motores em pessoas com dietas ricas em ultraprocessados, especialmente aquelas com histórico familiar de Parkinson ou outros fatores de risco.

Com o envelhecimento da população global e o aumento da prevalência de doenças neurodegenerativas, estudos como esse são cruciais para orientar políticas de saúde e escolhas individuais. Reduzir o consumo de ultraprocessados pode não apenas melhorar a saúde geral, mas também oferecer uma estratégia promissora para proteger o cérebro contra o avanço de doenças como o Parkinson.




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