Em uma decisão que abala o futebol brasileiro, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) afastou Ednaldo Rodrigues da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) nesta quinta-feira. O desembargador Gabriel de Oliveira Zéfiro, da 21ª Câmara de Direito Privado, nomeou Fernando Sarney, vice-presidente da entidade, como interventor, com a missão de convocar novas eleições "o mais rápido possível", conforme os prazos estatutários. Esta é a segunda vez que Ednaldo é destituído do cargo, reacendendo a crise administrativa na maior entidade do futebol nacional.

Motivos do Afastamento

A decisão judicial tem como base a anulação de um acordo homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em janeiro de 2025, que legitimava a eleição de Ednaldo Rodrigues em 2022. O desembargador Zéfiro apontou "graves irregularidades" no documento, incluindo:

• Suspeita de Falsificação: Um laudo pericial, solicitado pelo vereador Marcos Dias e conduzido por Jacqueline Tirotti, indicou que a assinatura de Antônio Carlos Nunes de Lima, conhecido como Coronel Nunes, ex-vice-presidente da CBF, apresentava divergências em relação ao seu padrão de escrita. A análise sugeriu que a assinatura no acordo poderia ser falsa, comprometendo sua validade.

• Incapacidade Civil: Relatos apontam que Coronel Nunes, à época do acordo, sofria de problemas de saúde graves, incluindo déficit cognitivo decorrente de uma neoplasia cerebral maligna e cardiopatia. Esses fatores levantaram dúvidas sobre sua capacidade de assinar o documento, reforçando a nulidade do acordo.

Com base nessas evidências, Zéfiro declarou nulo o acordo e determinou o afastamento de toda a diretoria da CBF, incluindo Ednaldo, até que novas eleições sejam realizadas.

Contexto de Crise

Este não é o primeiro capítulo da turbulência na gestão de Ednaldo Rodrigues. Em dezembro de 2023, o TJ-RJ já havia afastado o presidente, considerando inválido um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2022 entre a CBF e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). O TAC, que definiu regras para a eleição de Ednaldo, foi julgado ilegítimo por interferir em uma entidade privada. Na ocasião, José Perdiz, presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), foi nomeado interventor. Ednaldo retornou ao cargo em janeiro de 2024, após decisão liminar do ministro Gilmar Mendes, do STF.

O caso atual ganhou força após o próprio ministro Mendes, em 7 de maio de 2025, encaminhar o processo ao TJ-RJ para apuração das suspeitas de irregularidades no acordo de janeiro. Embora tenha negado o afastamento imediato na ocasião, Mendes reconheceu a gravidade das acusações, o que culminou na decisão desta quinta-feira.

Repercussões no Futebol Brasileiro

A CBF emitiu nota oficial afirmando que ainda não teve acesso ao laudo pericial e criticou a "espetacularização" do caso, defendendo a legalidade de suas ações. A entidade expressou confiança na Justiça e acredita que as acusações serão esclarecidas. No entanto, o cenário é de incerteza:

• Fifa e Conmebol: Em 2023, a Fifa alertou que decisões judiciais na CBF poderiam levar à suspensão da confederação, impedindo a seleção brasileira e clubes de disputarem competições internacionais. Especialistas em direito desportivo, porém, avaliam que a nomeação de Fernando Sarney, um dirigente interno, reduz o risco imediato de sanções, já que a intervenção não é vista como externa.

• Disputa Política: O afastamento ocorre em meio a tensões internas. Fernando Sarney, que rompeu com Ednaldo, integra a oposição. Além disso, o ex-jogador Ronaldo, hoje empresário, anunciou sua pré-candidatura à presidência da CBF, sinalizando uma eleição acirrada no horizonte.

• Seleção e Clubes: A instabilidade administrativa preocupa federações estaduais, clubes e patrocinadores, especialmente com a proximidade de competições como as Eliminatórias da Copa do Mundo de 2026 e o Brasileirão.

Próximos Passos

Ednaldo Rodrigues deve recorrer ao STF, como fez em 2023, buscando suspender a decisão do TJ-RJ. Enquanto isso, Fernando Sarney assume interinamente e tem a tarefa de organizar novas eleições, conforme o estatuto da CBF. Um julgamento crucial está marcado para 28 de maio de 2025, quando o STF analisará a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7580. A decisão pode definir a legitimidade do mandato de Ednaldo e a validade do TAC de 2022, com impactos diretos no futuro da entidade.

Um Futuro Incerto

O novo afastamento de Ednaldo Rodrigues expõe as fragilidades na governança da CBF e reacende o debate sobre a influência de decisões judiciais no esporte. Enquanto o futebol brasileiro aguarda os desdobramentos, a pergunta que paira é: quem comandará a entidade que gere o esporte mais popular do país? A resposta, por enquanto, está nas mãos da Justiça.